Olá! Bom dia!
O nono dia de caminhada foi permeado por pequenas dificuldades, inclusive encarar meu péssimo humor! Comecei o dia muito mal humorada não só por não ter dormido nada a noite, mas também pelo tempo fechado com garoa e frio. Além disso, amanheci com muita dor na minha panturrilha direita. Para complementar era o tedioso domingo: dia no qual quase nada está aberto e eu pra variar tinha esquecido de comprar comida suficiente para passar o dia.
Dor, fome, frio…, e somado a isso estava minha vontade reprimida de caminhar sozinha: afinal não era caminhar sozinha a ideia inicial? Mas embora houvesse esta intenção, eu não sabia ainda como dizer “adeus” aos meus amigos, até mesmo porque eu gostava muito de estar com eles. Além disso, tinha receio que eles ficassem chateados comigo por eu querer me afastar. E se eu partisse será que voltaria a vê-los?
Uma coisa interessante que quero contar sobre este dia e sobre o Caminho de forma geral é que apesar do frio, da fome, da dor, do humor, enfim, das adversidades, senti que uma força muito grande envolve nós peregrinos , levando-nos adiante.
Começamos o dia caminhando todos juntos e, após um tempo de caminhada, eu melhorei meu humor. Uma das coisas que o Caminho me mostrou também é que seja qual fosse a situação, a solução era começar a caminhar e, ou o problema desaparecia, ou a solução para ele surgia durante a caminhada. Então, bora caminhar!!!
Mas a verdade é que nesse dia, eu só pensava em chegar à algum albergue. E, se fosse seguir minha vontade, teria ficado no albergue paroquial de Tosantos, uma pequena cidade com uma igreja encravada nas pedras! Era lá que minha intuição me mandou ficar, mas para estar com meus amigos, segui caminhando até Villafranca.
Mas eu estava triste e naquele dia parecia que até os girassóis do Caminho estavam tristes também…
Escrevi sobre meu humor para demonstrar que por mais conectada e grata que eu estivesse pela oportunidade de estar num caminho tão especial, eventualmente estive sujeita as intempéries do dia, neste caso causada por privação de sono, de comida, de conforto, por dores físicas, mas principalmente por minha dificuldade interna de me posicionar naquele momento, respeitando minhas necessidades. Será que se eu tivesse conseguido expor tais necessidades eu teria lidado melhor com a falta de sono e tudo mais?
Acredito que sim! Penso que quando estamos bem internamente, agindo de acordo com o coração, o cenário fora incomoda menos ou nem incomoda.
Após 35km de caminhada, chegamos em Villafranca Montes de Oca, uma cidadela no meio do nada, onde resolvemos ficar.
Para entrar na maioria dos albergues é necessário deixar as botas e os cajados na entrada, como demonstram as fotos.
Se bem me lembro, não tinha restaurante por lá e por isso cozinhamos novamente. Ou melhor, o Wagner cozinhou, e eu e a Lívia comemos! Aliás, cozinhar é infinitamente mais barato que comer o menu do peregrino, mas a fome e o cansaço geralmente eram tão grandes, que não dava muita disposição de sair para comprar comida e prepara-la! Mas neste dia comemos novamente o delicioso macarrão preparado pelo gaúcho!
E, fiquei ensaiando dizer durante o jantar que queria ter a experiência de caminhar alguns dias só, mas não disse.
Tomei vinho e um bom relaxante muscular para tentar dormir mesmo com roncos e amenizar as minhas dores. Durante os 29 dias de caminhada, tomei relaxante muscular umas 5 noites e também tomei anti-inflamatório quando surgiu uma canelite, que vou contar futuramente. Pomada de arnica então, virou hidratante! rsrs
Naquela noite, tive vontade de chorar de cansaço: cansaço externo e cansaço de lidar com minhas próprias dificuldades… e chorei! Mas, enfim, o sol se pôs e aquele longo dia se foi. E cada novo dia traz uma nova oportunidade de viver diferente!
Namaste!
Thais
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