11 de junho de 2014

Um dia de muita chuva no Caminho de Santiago… que acabou em pizza!!!

Bom dia!!!

Dormi tarde e acordei “tarde” em Melide, e a maior parte dos peregrinos já tinha partido ou estavam de partida. Pra variar estavam eu, Arunas e Gustavo no albergue ainda. Os três do grupo que geralmente saiam por ultimo!!! Smiley piscando

Não que eu não gostasse (ou goste) de acordar cedo, pelo contrário, mas o que eu não gostava na verdade era de caminhar no escuro e por três motivos justos: primeiro porque era muito frio de manhãzinha e eu não gosto MESMO de frio; segundo porque eu não conseguia ver nada no Caminho, e perdia grande parte da beleza da trilhas e das cidades; e terceiro porque eu não tinha uma lanterna própria e ficava na dependência de outros peregrinos para enxergar os sinais e até mesmo os buracos do caminho. Eu me sentia um peso… Melhor  então, caminhar sob a luz do dia!!!

Bom, fomos eu, Gustavo e Arunas tomar café da manhã juntos num Churreria. Churros gostosos, mas nem um pouco saudável, admito! Pelo menos são uma variação para as tostadas com manteiga de todo dia!!!

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Comuniquei a Arunas e Gustavo o meu desejo de caminhar sozinha naquele dia, e Gustavo também aderiu a ideia. Nos separamos pouco depois da saída da lanchonete. A previsão daquele dia era de chuva e a previsão acertou, quando estávamos prontos para começar a caminhar, começou a chover pra valer!!!

O jeito foi voltar para a lanchonete e vestir a capa de chuva,  a capa da mochila e criar coragem para enfrentar toda aquela agua! Com chuva ou não, bora caminhar!!! Seria meu primeiro dia de chuva de verdade no caminho…

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E foi assim o dia todo, a chuva caindo sem dó dos peregrinos!

Aproveitei, os poucos momentos nos quais ela dava uma amenizada, para tirar as fotos aqui postadas, mas pela quantidade de fotos dá para perceber que choveu mesmo o dia todo!

Mesmo assim o dia foi perfeito! A chuva lavou meu corpo, minha mente e minha alma e segui leve pelo caminho...

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Não encontrei ninguém conhecido nos primeiros 13km. Caminhei no silencio externo e interno, o único som presente era da chuva e dos meus passos no Caminho…

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Parei duas vezes neste primeiros 13km: uma para comprar framboesas numa barraca selfservice (Detalhe: não tinha ninguém vigiando a barraca, mas os peregrinos compravam as frutas e deixavam o dinheiro numa caixinha de papelão!), e depois parei uma segunda vez para comprar agua num restaurante, usar o banheiro, lavar minhas framboesas…

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Passei por Arzua e encontrei Marta e Jordi lá (talvez Luca também estivesse, não me lembro direito), mas eles iriam de ônibus até Pedrouzo. Não era a primeira vez que eles faziam o Caminho e acredito que não estavam com intenção de caminhar sob toda aquela chuva, não sei ao certo! Me despedi deles e prossegui…

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Segui só, e  o dia estava ótimo para caminhar, mas a chuva comprometeu, além das fotos, a possibilidade de explorar as cidades que passei naquele dia…

Mais um motivo para eu voltar a fazer o Caminho, né?! Hehehe!!! Alegre

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Estava sozinha e não sabia até onde meus pés me levariam naquele dia, mas seguia confiante e feliz de estar ali. Flores amarelas traziam cor para meu caminho nesse dia cinza de chuva…

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Depois de 25km caminhando, a chuva que até então tinha sido uma benção, começou a me incomodar. Meus pés molhados fizeram que as antigas bolhas ressurgissem e desejei parar no próximo albergue que eu encontrasse pelo Caminho. Pelo meu mapa/guia seria apenas em Santa Irene, mais uns 5km adiante. Só me restava caminhar então!

Ah, acho que eu esqueci de contar uma história sobre as minhas botas! Comprei uma bota de caminhada aqui no Brasil que era razoavelmente boa.  Na época, era o que meu dinheiro me permitia comprar, e ela era bonita e parecia resistente, confortável  e segura. E resistente e segura ela era, já confortável… Smiley triste

Pois é, minha bota era muito dura, e isso não estava ajudando em relação as bolhas. Lá em Astorga,  a Andrea comprou um tênis pra ela e tinha intenção de abandonar suas botas, caso se adaptasse melhor ao tênis e perguntou se eu não queria experimentar as botas delas, quem sabe calçados diferentes e de um numero maior causassem menos bolhas e dores...

Estou contando tudo isso, porque acredito que um futuro peregrino que esteja lendo este blog deva sim investigar para achar um tênis ou bota que seja o mais eficiente possível! E confortável! A caminhada depende muito disso!!!

Mas voltando a minha história, o problema era que as botas da Andrea não tinham palmilhas (ela tinha substituído a palmilha original da bota por ortopédicas e iria usa-las, e como a bota era dois números acima do meu, as minhas palmilhas ficavam pequenas e desconfortáveis). Na manhã do dia seguinte que ela comprou o tênis, estávamos caminhando (ela com seu tênis novo e com minha bota antiga, mas carregando na mochila a bota dela) e encontramos em cima de uma daquelas muretas que indicam que estamos no caminho, um par de palmilhas de gel exatamente do tamanho da bota que a Andrea queria me dar! Alegre (Tem uma foto de uma mureta qualquer a seguir, só para ilustrar minha fala!)

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As palmilhas estavam no meio do nosso caminho, não tinha como não vê-las!!! Algum anjo deixou lá pra mim!!! Caminho mágico, sincronicidade, conexão… gratidão!!!

Peguei as palmilhas, lavei-as quando cheguei no albergue e troquei minhas botas pelas botas da Andrea, lá em Foncebadon, deixando as minhas para trás! O desapego foi tão grande que nem me lembrei de tirar uma foto de despedida da minha bota companheira de Caminho até então… Smiley piscando

Voltando ao vigésimo oitavo dia, nesse trecho encontrei um grupo grande de turistas de Portugal  e conversei com eles um pouco, e depois voltei a seguir sozinha com meus pensamentos. Tive a oportunidade de recapitular grande parte dos meus últimos 28 dias de vida no Caminho e do quanto aquela experiência estava sendo positiva e transformadora. Foram  tantos aprendizados, tantas sensações, tantos prazeres e dores, tantos lugares conhecidos e nunca antes imaginados, tantas pessoas cruzaram meu caminho, fiz tantos amigos,…, que gratidão estar ali!

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Quando percebi, estava finalmente chegando em Santa Irene e por causa da chuva e das bolhas tinha a intenção de ficar ali! Entretanto, depois do dia todo caminhando sozinha, queria reencontrar meus amigos! Tinha grande chance de encontrar o Wagner por lá e talvez Gustavo também! O restante do grupo, eu sabia que estaria em Pedrouzo, pelo menos a ideia deles era seguir até lá, pelo o que eles tinham me dito na noite anterior!

E, logo na entrada da cidade, encontrei Arunas, tomando uma cerveja (depois da primeira cerveja em Triacastela, ele não parou mais! hahaha). Ele tinha conversado com os demais peregrinos pelo what´s up e estavam todos em Pedrouzo já! Segui com ele até lá! Mais 5km…

Andei 33km naquele dia e na chuva!!! Loucura! Loucura mesmo! Numa próxima vez penso em fazer no máximo 20km por dia… já é mais do que suficiente! Mas quem disse que temos controle de tudo… no final temos de seguir o coração, e nesse dia meu coração me fez caminhar 33km!!!

Enfim, após 28 dias de caminhada, estava eu em Pedrouzo, há apenas 20km de Santiago de Compostela! E, eu não fazia ideia do que eu sentiria quando chegasse a Santigo e de como acabaria tal Caminho, mas  naquele dia acabou tudo em pizza!!! Literalmente!!! Hahaha!!! Smiley piscando

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Buen camino!!!

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