Bom dia!
Na manhã seguinte, saímos bem cedo de Villamayor, e caminhei sozinha as primeiras horas do dia. Gostava de toda manhã, caminhar um tempo só para poder meditar, entoar mantras, refletir sobre o dia, orar e agradecer pela oportunidade que eu estava tendo de fazer o caminho...
Quando sentia que já tinha ficado tempo suficiente só, parava para esperar meus amigos peregrinos na entrada de alguma das cidades do caminho e voltávamos a caminhar juntos. Algumas vezes, parávamos para conversar com outros peregrinos no caminho ou caminhávamos em ritmos diferentes e nos separávamos também, mas no final do dia sempre acabávamos nos encontrando… mesmo sem combinar o lugar, como aconteceu nesse dia.
Em algum momento do Caminho, a Lívia ficou para trás conversando com outros peregrinos e caminhando num ritmo menor e não vimos mais ela durante o Caminho naquele dia. O interessante foi que apesar de ela estar atrás de mim e do Wagner, e de eu e ele não termos desviado da rota em nenhum momento, quando chegamos em Viana, ela já estava lá no albergue! Não conseguimos descobrir como ela chegou antes sem passar por nós! Mistérios do caminho… rsrsrs
Chegamos cedo em Viana e estava muito calor!
Tomamos banho, lavamos as roupas e ficamos um tempo deitados na grama do albergue nos alongando. Alias, alongar todo dia e várias vezes ao dia para mim foi essencial para conseguir caminhar tanto!
Lavar roupa era a parte mais chata do dia para mim, eu confesso. Quando morei na Índia já não gostava rs, e na Espanha era pior ainda. Chegar cansada, com dores e ter que lavar a roupa logo para dar tempo de secar, era muito chato. Ainda mais lavar as meias que além de sujas, ficavam com restos de Compeed (remédio para bolhas) aderidos a ela!
A boa noticia para futuros peregrinos é que alguns albergues tem máquina de lavar. Em média, cobram 4 euros pela lavagem. Assim, em alguns dias dividíamos uma maquina em três ou mais pessoas e pude me “livrar” desta tarefa que eu não apreciava muito.
Terminamos este sexto dia de caminhada, passeando pela cidade da Viana à procura de algum restaurante para comer um “menu do peregrino”… Alias, o menu será um assunto abordado em breve aqui!
Queria compartilhar hoje uma reflexão que fiz ontem decorrente de perguntas de alguns dos leitores do blog. Algumas pessoas me escreveram, me questionando sobre como eu consigo lembrar de tantos fatos e detalhes assim?
Bom, eu também não sei a resposta ao certo rs, porque boa memória não é minha melhor característica, mas acredito que as fotos me ajudam a lembrar. Além disso, tudo que vivi no Caminho foi muito intenso e está muito vivo dentro de mim ainda, e isso ajuda na hora da escrita. Mas, se do ponto de vista da escrita, esta intensidade da experiência que tive lá ajuda, por outro lado, isso é quase um problema!
Quando voltei da Índia, depois de quase 6 meses de vida intensa por lá, demorei pelo menos 3 meses para começar a me situar no Brasil. Assim como agora, tudo era muito vivo dentro de mim: lugares, hábitos, cheiros, comidas, rotina, pessoas, e parecia que eu não me “encaixava” mais na minha vida no Brasil. E agora a sensação é a mesma!
Fiquei pouco mais de um mês na Espanha, e apesar de amar o Brasil, de amar meus amigos, minha família, meus alunos, minha casa e meu trabalho, a minha sensação é de “desencaixe”, de que falta algo, como se eu fosse “estrangeira” no meu país, “estrangeira de mim mesma”!
Não consigo explicar claramente este sentimento com palavras, mas talvez quem já passou por isso também, me entenda. E é uma sensação muito estranha, porque em nenhum momento me senti estrangeira na Índia ou na Espanha. Apesar da diferença cultural ser grande, tudo me era familiar…
Qual a solução para este “problema”? O tempo, eu acredito.
Enquanto isso, revivo o Caminho ao compartilhá-lo com vocês…
Namaste
Thais
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