Bom dia!!!
Apesar de todo meu discurso na postagem anterior sobre sentir onde ficar ao longo do caminho, no terceiro dia de caminhada, já tínhamos um destino escolhido desde cedo: Pamplona. Isso chama-se flexibilidade de ideias
O fato é queria dormir em Pamplona para ter tempo de conhecer a famosa cidade com mais tempo.
Ah, tem um assunto que eu queria abordar na postagem de hoje, mas que teve repercussões no meio do Caminho: beber ou não beber água da torneira! Dizem que a agua de torneira na Espanha é potável e, a longo do Caminho, existem várias fontes como estas abaixo de agua potável para que o peregrino mantenha-se hidratado sem ter que carregar muito peso de agua na mochila.
Durante os 15 primeiros dias bebi muita agua de torneira: agua fresca, sabor bom, sem problemas. A maior parte dos peregrinos também bebia. No décimo quarto dia andando, bebi agua de uma cidade e achei que o gosto estava um pouco forte, mas não dei atenção ao fato e bebi mesmo assim. Isso me custou um dia de fortes dores estomacais, enjoos, tontura e completa falta de energia para caminhar (embora tenha me trazido surpresas boas que contarei num outro dia!). A partir deste fato, segui bebendo só agua mineral comprada, para evitar outros aborrecimentos. Alguns peregrinos passaram mal como eu por causa da água e outros beberam agua da torneira o tempo todo e não tiveram nada. Meu conselho a futuros peregrinos? Atenção e bom senso.
Durante este dia, reencontramos a Ursula (alemã), o Ron (americano) e conhecemos o Tsubasa do Japão.
Infelizmente este foi o último dia que vimos o Ron. Ele teve uma desidratação e precisou ficar mais de 7 dias num hospital em Pamplona se recuperando, antes de prosseguir o caminho. De lá, ele pegou um ônibus para Leon de onde me escreveu um e-mail dizendo que estava se sentindo melhor, mas que ainda não sabia se iria continuar o Caminho. Até hoje não tive mais noticias dele…
Neste dia, aconteceu um fato “bobo” mas que me deixou emocionada. Entrei numa “tienda” para usar o banheiro. Enquanto estava na fila, reparei numa vitrola antiga e um vinil do nosso querido João Gilberto. Tinha um aviso para não tocar nos discos e não toquei. Mas não resisti e perguntei ao dono se ele do Brasil. Não era, mas gostava muito de música brasileira, respondeu! Foi até a vitrola e colocou o vinil para tocar. Na fila do banheiro tinha uma americana e outra espanhola que ao ouvirem a musica começaram a cantarolar. Quando vi estávamos todas dançando e cantando no meio da loja! Coisas do caminho…
Alias, o caminho foi todo emocionante este dia. Ao sair de Zubiri eu estava mancando muito por causa das bolhas que tinham surgido no dia anterior nos meus pés. Eu as tinha furado com agulha e passado a linha nelas para drenar o líquido e secar, mas estava difícil caminhar por causa da dor. Encontrei meu amigo da Bulgária tomando café da manhã e ele me viu mancando e me deu os famosos “Compeeds”, um tipo de band-aid porém mais grosso que ameniza o atrito. Além disso, o compeed gruda na pele (e nas meias também rs) e libera um medicamento que cicatriza e diminui a dor. Esse cuidado entre peregrinos é uma das coisas mais bonitas do caminho e acontece mesmo entre peregrinos que mal se conhecem.
Este trecho do Caminho é muito bonito, entre bosques, flores e na beira de rios…
Sentei na beira do rio para tirar um pouco as botas, porque novas bolhas surgiram, estavam doendo muito e eu não estava conseguindo mais caminhar,... Na beira do rio tinham 3 espanholas tirando fotos. Quando elas viram minhas bolhas, pediram que eu sentasse na na margem do rio e colocasse os pés na agua fria pois isso iria ajudar com a dor. Fiquei com os pés um tempo na agua e depois disso elas pediram que eu tirasse os pés da agua, secaram meus pés com uma toalha delas e passaram uma pomada cicatrizante de bolhas. Me ajudaram com as bolhas e partiram rapidamente. Não sei nem o nome delas, mas fiquei profundamente agradecida pelo gesto de cuidado que tiveram comigo e renovada para voltar a caminhar…
Depois de um tempo caminhando, reencontrei meu amigo Wagner, e mais adiante encontramos também o Tsubasa e a Ursula, que mal estava conseguindo caminhar por causa de uma dor forte no quadril direito. Foi a minha vez de ajudar uma peregrina. Ensinei à ela alguns alongamentos para quadril (minha especialidade no último ano rs) e depois de fazermos juntas, a dor dela diminui muito e ela voltou a andar quase sem dor e mancando menos.
Apesar de serem “apenas” 22km de Zubiri à Pamplona, este dia foi um dia especialmente longo, então vou continuar escrevendo sobre ele num próximo post. Assim, respeito o tempo e a paciência dos meus leitores!
Namaste
Thais
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