Bom dia!
E o que significa sentir o Caminho?
Para mim significou tentar estar presente no agora, atenta as sensações, aos sinais externos e internos, e com base nisso decidir por onde caminhar, onde descansar, comer ou dormir.
Se é fácil agir assim?
Penso que nem sempre, pois envolve muitos fatores. Por exemplo, perceber que a mente quer controlar as ações baseadas em ideias pré-concebidas, em histórias que ouviu, em medos, e não na realidade do momento. Mas acredito que é possível tentar viver assim, conectada ao sentir… E, meditar, orar, fazer silêncio, e manter os olhos e o coração abertos ajudam nessa conexão!
Apoiada por sinais internos e cansaço rs, nesse dia decidi parar em Zubiri, mais ou menos 22km de caminhada depois de Roscenvalles.
Saímos de Roscenvalles com o dia clareando…
Paramos para tomar café na cidade seguinte, Burguete, um charme de lugar! Fiquei encantada com o que conheci da França e da Espanha. Passamos por cidades muito charmosas e limpas. Em Burguete, comi tostadas (parecido com nosso pão na chapa, mas sem manteiga) e tomei suco de laranja e leite com chocolate. Esse foi o meu café da manhã durante quase todo Caminho, além do chá de hortelã!
Confesso que no final do caminho, já não podia mais ver tostadas na frente! =0
O caminho é surpreendente. Além de passar no meio das cidades, tem de tudo: estradas e trilhas de asfalto, de terra, de pedra; passa no meio de bosques, no alto de montanhas, na beira de rios; caminha-se por calçadas, pontes, enfim, o cenário muda o tempo todo.
As paisagens do Caminho se misturam aos peregrinos, vindos de todos os cantos do nosso planeta. Alguns apenas passam ou passamos por eles; com outros trocamos olhares e nos desejamos mutuamente: “Buen Camino”; outros caminham ao nosso lado por algumas horas, por um dia ou alguns dias; e outros se tornam “hermanos de camino”, amigos que levaremos para sempre no coração e nas nossas vidas!
Tenho a intenção de escrever uma postagem exclusiva sobre as pessoas que encontrei nessa jornada, mas vou colocar a foto delas, na medida que elas apareceram no Caminho. Estes, por exemplo, foram os primeiros brasileiros que encontrei por lá.
Caminhei sozinha uma boa parte deste dia. Sozinha não, acompanhada de milhões de pensamentos… Como em uma cabeça tão pequena cabem tantos pensamentos???
Ainda bem que existem pranayamas, mantras e orações para amenizar e nos libertar de tais pensamentos… =)
Pensei ter chegado antes que meu amigo gaúcho em Zubiri, mas não tinha muita certeza se ele realmente estava atrás de mim no caminho ou na frente. Estava bem cansada da caminhada do dia anterior, com dores, bolhas e decidi dormir naquela cidade mesmo. Esperei para ver se ele aparecia na ponte que dava acesso à Zubiri, mas ele não apareceu…
Minha intuição dizia eu precisava encontrar logo uma albergue se eu quisesse mesmo dormir naquela cidade. Dei uma volta pela cidade, olhei o albergue municipal, mas não gostei. Decidi ficar num albergue particular.
Voltei para a ponte para ver se encontrava o Wagner e lá estava ele. Fomos para o albergue e acho que 5 minutos depois que ele chegou todos os albergues da cidade lotaram. Os peregrinos que chegaram depois disso foram acomodados no chão de um ginásio ou tiveram que seguir mais 6km até a próxima cidade. Aqueles que chegaram primeiro no ginásio ainda conseguiram colchão, e os demais tiveram que dormir diretamente no chão, apenas com o saco de dormir, como foi o caso do nosso amigo da Bulgária.
Sentei na beira do rio para escrever no meu diário de viagem e curtir a natureza do local. Local perfeito para escrever ou seria para dormir, né gaúcho!? rs
Era um domingo e estava tudo fechado. Descobrimos que basicamente nada abre de domingo na Espanha, ainda mais em cidades pequenas. Só estava aberta uma loja de conveniência de um posto de gasolina no final da cidade. Fomos até lá procurar algo para comer e foi lá que tomamos nossa primeira cerveja na Espanha! rs
Vou aproveitar a foto do brinde para escrever sobre um assunto polêmico na minha trajetória profissional e pessoal: bebida alcoólica. Recebi críticas, algumas vezes durante o Caminho, assim como durante a minha vida, por ser Professora de Yoga, ser Professora de Educação Física, espiritualizada, e etc., e consumir bebidas alcoólicas. Já até “perdi” alunos por causa disso.
Respeito a opinião e escolha de cada um e não estou defendendo o consumo de tais bebidas, pelo contrário, eu mesma já fiquei um bom tempo sem consumir nada. Mas, na minha opinião o que importa é ter equilíbrio nas ações, é sentir e estar conectada com a nossa própria verdade.
É evidente que não bebo quando vou trabalhar com a energia das pessoas, como quando vou dar aula ou aplicar Reik, mas no meu momento de lazer não vejo o porque de tal proibição. Talvez um dia eu mude de opinião sobre este assunto, mas nesse momento, é isso que sinto e penso. O vegetarianismo é um exemplo dessa conexão interna. Não me tornei vegetariana por uma demanda externa, foi algo interno que mudou e transformou também as escolhas fora.
Certa vez, ouvi uma professora de yoga dizer:
“Tudo me é permitido, mas nem tudo me convém”.
E concordo. Tudo é permitido e conectada ao meu sentir, posso tudo, e escolho aquilo que faz sentido para mim no momento, apoiada na visão de mundo que tenho. Escolho aquilo que me convém ou não, de acordo com minhas verdades e minhas melhores intenções. Não quero estar certa ou ter razão, quero ser coerente e feliz!
Namaste
Thais
Nenhum comentário:
Postar um comentário