29 de maio de 2014

Sobre Satya (não-mentir)…

Para complementar nossas aulas, segue um pequeno texto sobre Satya:

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Satya é um dos Yamas (abstenções) e significa falar a verdade, e não se resume unicamente em não mentir, mas sim em não falsear ou corromper as palavras. Implica a busca da coerência entre pensamentos, palavras e atos, o que deve entender-se como evitar a falsidade em todas suas formas, tanto nas relações do yogin com as pessoas quanto dele consigo mesmo.

A prática de satya se reflete na transparência das relações humanas, permitindo uma maior integridade entre todos. Satya é procurar sempre a verdade, independentemente de onde essa busca possa nos levar, sendo necessário, porém, considerar o que falamos, a forma como falamos, e como isso afeta os outros, pois Satya não deve entrar em conflito com ahimsa. A palavra pronunciada não deve ter a intenção de ferir, porque se ferir, não produzirá harmonia, apenas sofrimento. Devemos lembrar assim que a verdade se identifica com o bem, e toda verdade que, quando dita, se transforma em mal deve ser silenciada, mas jamais falseada: o silêncio predomina entre as palavras!

O Professor Hermógenes nos conta uma história para ilustrar a importância de Satya:

A história do ladrão e o rei

Uma vez, um ladrão quis aprender Yoga. Foi visitar um mestre e disse-lhe que queria praticar, mas que era ladrão, bêbado e mentiroso. O mestre falou dos yamas e niyamas, e disse que, para começar, deveria escolher um yama ou um niyama e ater-se a ele. O ladrão pensou: "minha profissão é roubar. É o que sustenta a minha família, portanto, fora de questão seguir asteya. A bebida é a minha única fonte de prazer, e tampouco vou largá-la. Ou seja, que nem shauchan nem tapas. Mas, deixar de mentir não vai me custar tanto. Vou seguir satya." E assim foi que ele decidiu falar somente a verdade.

Uma noite, o nosso ladrão foi roubar o palácio real. Eis que o rei estava passeando pelo jardim após um dia entediante, buscando algo que lhe tirasse o vazio existencial. Os dois se encontraram e o rei pergunta: "quem é você?". O ladrão disse a verdade: "sou um ladrão e vim roubar o tesouro real." O rei viu ali a possibilidade de viver a emoção e a aventura que estava procurando desde cedo, e então falou: "eu também sou um ladrão. E sei onde se guarda a chave da sala do tesouro. Façamos juntos o trabalho e dividamos o lucro". O ladrão concordou.

Os dois aventureiros entram no palácio, chegam na sala e dividem o tesouro. Porém, acham três enormes diamantes, que não podem ser divididos sem beneficiar um deles mais do que o outro. O ladrão, apelando para aquela generosidade que ocasionalmente conseguem ter os da sua profissão, diz: "fiquemos com um diamante cada, e deixemos o terceiro para o rei. Afinal, coitado, ele acabou de perder tudo." Ao separar-se no jardim, o rei pergunta ao ladrão onde ele mora, e fala da possibilidade de contatá-lo novamente para futuros "trabalhos". O ladrão fala a verdade.

No dia seguinte, o rei vislumbra a possibilidade de testar seu primeiro ministro. Chama-o e diz: "ontem à noite tive um sonho estranho. Sonhei que o tesouro fora roubado. Vá à sala conferir, pois um pressentimento está oprimindo meu coração."

O ministro entra na sala, vê o diamante que sobrou e pensa: "o nosso rei perdeu absolutamente tudo. Este único diamante não fará nenhuma diferença". Esconde a pedra preciosa sob a túnica e volta à sala do trono, dizendo que, efetivamente, o tesouro inteiro foi roubado. O rei manda prender o ladrão. Ao ser interrogado na frente do ministro, conta o acontecido: desde o encontro com o "colega" de profissão até o detalhe do diamante que eles deixaram na sala.

Desta forma, o rei descobre que o seu ministro não é de confiança, pois mente e rouba. Manda prendê-lo imediatamente. E, em seu lugar, nomeia primeiro ministro seu novo amigo, o ladrão. Este, dada a sua nova ocupação, deixou de roubar. E, como passou a ter outros prazeres, deixou igualmente de beber.

Assim, de acordo com o professor Hermógenes, se escolhermos e seguirmos apenas um dos yamas ou niyamas, os outros acontecerão sozinhos, e sugere que tomemos essa escolha como um exercício temporário, digamos durante algumas horas, dias ou semanas, para observar as nossas próprias reações. Se, por exemplo, escolhemos seguir a não-violência e sentimos dificuldades, afirma que há ainda as outras possibilidades. No Yoga Sutra II-36 de Pantajali está escrito que “Quando ele (o yogui) se estabelece na veracidade (satya), o fruto resulta imediato a ação”.

Namaste!

Profa. Thais

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