1 de agosto de 2012

A PEQUENA ALMA E O SOL

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Era uma vez, em tempo nenhum, uma Pequena Alma que disse a Deus:
- Eu sei quem sou!
E Deus disse:
- Que bom! Quem és tu?
E a Pequena Alma gritou:
- Eu sou Luz
E Deus sorriu.
- É isso mesmo! - exclamou Deus. Tu és Luz!
A Pequena Alma ficou muito contente, porque tinha descoberto aquilo
que todas as almas do Reino deveriam descobrir.
- Uauu, isto é mesmo bom! - disse a Pequena Alma.
Mas, passado pouco tempo, saber quem era já não lhe chegava. A pequena
Alma sentia-se agitada por dentro, e agora queria ser quem era. Então
foi ter com Deus ( o que não é má ideia para qualquer alma que queira
ser Quem Realmente É ) e disse:
- Olá Deus! Agora que sei Quem Sou, posso sê-lo?
E Deus disse:
- Quer dizer que queres ser Quem já És?
- Bem, uma coisa é saber Quem Sou, e outra coisa é sê-lo mesmo. Quero
sentir como é ser a Luz! - respondeu a pequena Alma.
- Mas tu já és Luz - repetiu Deus, sorrindo outra vez.
- Sim, mas quero senti-lo! - gritou a Pequena Alma.
- Bem, acho que já era de esperar. Tu sempre foste aventureira - disse
Deus com uma risada. Depois a sua expressão mudou.
- Há só uma coisa...
- O quê? - perguntou a Pequena Alma.
- Bem, não há nada para além da Luz. Porque eu não criei nada para
além daquilo que tu és; por isso, não vai ser fácil experimentares-te
como Quem És, porque não há nada que tu não sejas.
- Hã? - disse a Pequena Alma, que já estava um pouco confusa.
- Pensa assim: tu és como uma vela ao Sol. Estás lá, sem dúvida. Tu e
mais milhões, ziliões de outras velas que constituem o Sol. E o Sol
não seria o Sol sem vocês. “Não seria um sol sem uma das suas velas...
e isso não seria de todo o Sol, pois não brilharia tanto. E no
entanto, como podes conhecer-te como a Luz, quando estás no meio da
Luz? - eis a questão”.
- Bem, tu és Deus. Pensa em alguma coisa! - disse a Pequena Alma, mais animada.
Deus sorriu novamente.
- Já pensei. Já que não podes ver-te como a Luz quando estás na Luz,
vamos rodear-te de escuridão - disse Deus.
- O que é a escuridão? perguntou a Pequena Alma.
- É aquilo que tu não és - replicou Deus.
- Eu vou ter medo do escuro? - choramingou a Pequena Alma.
- Só se o escolheres. Na verdade não há nada de que devas ter medo, a
não ser que assim o decidas. Porque estamos a inventar tudo. Estamos a
fingir.
- Ah! - disse a Pequena Alma, sentindo-se logo melhor.

Depois Deus explicou que, para se experimentar o que quer que seja,
tem de aparecer exactamente o oposto.
- É uma grande dádiva, porque sem ela não poderíamos saber como nada é
– disse Deus. Não poderíamos conhecer o Quente sem o Frio, o Alto sem
o Baixo, o Rápido sem o Lento. Não poderíamos conhecer a Esquerda sem
a Direita, o Aqui sem o Ali, o Agora sem o Depois. E por isso, -
continuou Deus - quando estiveres rodeada de escuridão, não levantes o
punho nem a voz para amaldiçoar a escuridão.
“Sê antes uma Luz na escuridão, e não fiques furiosa com ela. Então
saberás Quem Realmente És, e os outros também o saberão. Deixa que a
tua Luz brilhe tanto que todos saibam como és especial!”
- Então posso deixar que os outros vejam que sou especial? - perguntou
a Pequena Alma.
- Claro! - Deus riu-se. Claro que podes! Mas lembra-te de que
“especial” não quer dizer “melhor”! Todos são especiais, cada qual à
sua maneira! Só que muitos esqueceram-se disso. Esses apenas vão ver
que podem ser especiais quando tu vires que podes ser especial!
- Uau! - disse a Pequena Alma, dançando e saltando e rindo e pulando.
Posso ser tão especial quanto quiser!
- Sim, e podes começar agora mesmo - disse Deus, também dançando e
saltando e rindo e pulando juntamente com a Pequena Alma - Que parte
de especial é que queres ser?
- Que parte de especial? - repetiu a Pequena Alma. Não estou a perceber…
- Bem, - explicou Deus - ser a Luz é ser especial, e ser especial tem
muitas partes:
É especial ser bondoso. É especial ser delicado. É especial ser
criativo. É especial ser paciente.
Conheces alguma outra maneira de ser especial?
A Pequena Alma ficou em silêncio por um momento.
- Conheço imensas maneiras de ser especial! - exclamou a Pequena Alma
É especial ser prestável. É especial ser generoso. É especial ser
simpático. É especial ser atencioso com os outros.
- Sim! - concordou Deus. E tu podes ser todas essas coisas, ou
qualquer parte de.
- Eu sei o que quero ser, eu sei o que quero ser! - proclamou a
Pequena Alma com grande entusiasmo. Quero ser a parte de especial
chamada “perdão”. Não é ser especial alguém que perdoa?
- Ah, sim, isso é muito especial - assegurou Deus à Pequena Alma.
- Está bem. É isso que eu quero ser. Quero ser alguém que perdoa.
Quero experimentar-me assim - disse a Pequena Alma.
- Bom, mas há uma coisa que devias saber — disse Deus.
A Pequena Alma já começava a ficar um bocadinho impaciente. Parecia
haver sempre alguma complicação.
- O que é? - suspirou a Pequena Alma.
- Não há ninguém a quem perdoar.
- Ninguém? A Pequena Alma nem queria acreditar no que tinha ouvido.
- Ninguém! - repetiu Deus. Tudo o que Eu fiz é perfeito. Não há uma
única alma em toda a Criação menos perfeita do que tu. Olha à tua
volta!
Foi então que a Pequena Alma reparou na multidão que se tinha
aproximado. Outras almas tinham vindo de todos os lados, de todo o
Reino, porque tinham ouvido dizer que a Pequena Alma estava a ter uma
conversa extraordinária com Deus, e todas queriam ouvir o que eles
estavam a dizer.
Olhando para todas as outras almas ali reunidas, a Pequena Alma teve
de concordar: Nenhuma parecia menos maravilhosa, ou menos perfeita do
que ela. Eram de tal forma maravilhosas, e a sua Luz brilhava tanto,
que a Pequena Alma mal podia olhar para elas.
- Então, perdoar quem? – perguntou Deus.
- Bem, isto não vai ter piada nenhuma! - resmungou a Pequena Alma . Eu
queria experimentar-me como Aquela que Perdoa. Queria saber como é ser
essa parte de especial.

E a Pequena Alma aprendeu o que é sentir-se triste.
Mas, nesse instante, uma Alma Amiga destacou-se da multidão e disse:
- Não te preocupes, Pequena Alma, eu vou ajudar-te - disse a Alma Amiga.
Vais? - a Pequena Alma animou-se. Mas o que é que tu podes fazer?
- Ora, posso dar-te alguém a quem perdoares!
- Podes?
- Claro! - disse a Alma Amiga, alegremente. Posso entrar na tua
próxima vida física e fazer qualquer coisa para tu perdoares.
- Mas porquê? Porque é que farias isso? - perguntou a Pequena Alma.
Tu, que és um ser tão absolutamente perfeito! Tu, que vibras a uma
velocidade tão rápida a ponto de criar uma Luz de tal forma brilhante
que mal posso olhar para ti!
O que é que te levaria a abrandar a tua vibração para uma velocidade
tal que tornasse a tua Luz brilhante numa luz escura e baça? O que é
que te levaria a ti, que danças sobre as estrelas e te moves pelo
Reino à velocidade do pensamento, a entrar na minha vida e a
tornares-te tão pesada a ponto de fazeres algo de mal?
- É simples - disse a Alma Amiga. Faço-o porque te amo.
A Pequena Alma pareceu surpreendida com a resposta.
- Não fiques tão espantada - disse a Alma Amiga .Tu fizeste o mesmo
por mim. Não te lembras? Ah, nós já dançámos juntas, tu e eu, muitas
vezes. Dançámos ao longo das eternidades e através de todas as épocas.
Brincámos juntas através de todo o tempo e em muitos sítios. Só que tu
não te lembras. Já fomos ambas o Todo. Fomos o Alto e o Baixo, a
Esquerda e a Direita. Fomos o Aqui e o Ali, o Agora e o Depois. Fomos
o Masculino e o Feminino, o Bom e o Mau. Fomos ambas a vítima e o
vilão. Encontrámo-nos muitas vezes, tu e eu; cada uma trazendo à outra
a oportunidade exacta e perfeita para Expressar e Experimentar Quem
Realmente Somos.
E assim, - a Alma Amiga explicou mais um bocadinho - eu vou entrar na
tua próxima vida física e ser a “má”, desta vez.
Vou fazer alguma coisa terrível, e então tu podes experimentar-te como
Aquela Que Perdoa.
- Mas o que é que vais fazer que seja assim tão terrível? - perguntou
a Pequena Alma, um pouco nervosa.
- Oh, havemos de pensar nalguma coisa - respondeu a Alma Amiga, piscando o olho.
Então a Alma Amiga pareceu ficar séria, e disse numa voz mais calma:
Mas tens razão acerca de uma coisa, sabes?
- Sobre o quê? - perguntou a Pequena Alma.
- Eu vou ter de abrandar a minha vibração e tornar-me muito pesada
para fazer esta coisa não muito boa. Vou ter de fingir ser uma coisa
muito diferente de mim. E por isso, só te peço um favor em troca.
- Oh, qualquer coisa, o que tu quiseres! - exclamou a Pequena Alma. E
começou a dançar e a cantar: Eu vou poder perdoar, eu vou poder
perdoar!
Então a Pequena Alma viu que a Alma Amiga estava muito quieta.
- O que é? - perguntou a Pequena Alma. O que é que eu posso fazer por
ti? És um anjo por estares disposta a fazer isto por mim!
- Claro que esta Alma Amiga é um anjo! - interrompeu Deus, - são
todas! Lembra-te sempre: Não te enviei senão anjos.
E então a Pequena Alma quis mais do que nunca satisfazer o pedido da Alma Amiga.
- O que é que posso fazer por ti?
- No momento em que eu te atacar e atingir, - respondeu a Alma Amiga –
no momento em que eu te fizer a pior coisa que possas imaginar, nesse
preciso momento...
- Sim? - interrompeu a Pequena Alma. Sim?
A Alma Amiga ficou ainda mais quieta.
- Lembra-te de Quem Realmente Sou.
- Oh, não me hei-de esquecer! - gritou a Pequena Alma. Prometo!
Lembrar-me-ei sempre de ti tal como te vejo aqui e agora.
- Que bom - disse a Alma Amiga - porque, sabes, eu vou estar a fingir
tanto, que eu própria me vou esquecer. E se tu não te lembrares de mim
tal como eu sou realmente, eu posso também não me lembrar durante
muito tempo. E se eu me esquecer de Quem Sou, tu podes esquecer-te de
Quem És, e ficaremos as duas perdidas. Então, vamos precisar que venha
outra alma para nos lembrar às duas Quem Somos.
- Não vamos, não! - prometeu outra vez a Pequena Alma. Eu vou
lembrar-me de ti! E vou agradecer-te por esta dádiva – a oportunidade
que me dás de me experimentar como Quem Eu Sou.

E assim o acordo foi feito.
E a Pequena Alma avançou para uma nova vida, entusiasmada por ser a
Luz, que era muito especial, e entusiasmada por ser aquela parte
especial a que se chama Perdão.
E a Pequena Alma esperou ansiosamente pela oportunidade de se
experimentar como Perdão, e por agradecer a qualquer outra alma que o
tornasse possível.
E, em todos os momentos dessa nova vida, sempre que uma nova alma
aparecia em cena, quer essa nova alma trouxesse alegria ou tristeza -
principalmente se trouxesse tristeza - a Pequena Alma pensava no que
Deus lhe tinha dito:

Lembra-te sempre - Deus aqui tinha sorrido - não te enviei senão anjos.

Neale Donald Walsch
( Autor de «Conversas com Deus» )

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