4 de março de 2012

Refletindo..

Embora estejamos condicionados a nos identificar com os pensamentos
que passam pela nossa consciência em vez de (nos identificarmos com) a
própria consciência-estado-desperto, esse estado desperto que é nossa
verdadeira natureza é infinitamente flexível. Ele é capaz de qualquer
e todo tipo de experiência — inclusive concepções enganadas sobre si
mesmo como algo limitado, preso, feio, ansioso, solitária ou medroso.
Quando começamos a nos identificar com esse estado desperto sem tempo,
primordial, em vez dos pensamentos, sentimentos e sensações que passam
por ele, damos o primeiro passo para ficarmos frente-a-frente com a
liberdade que é a nossa verdadeira natureza.
Uma aluna expressou isso desse modo:
“Quando estava passando pelo meu divórcio, me esforcei muito para
estar consciente do dor que estava vivendo. Desmembrei-a em pequenos
pedaços, observando os pensamentos que vinham à mente e as sensações
que apareciam no corpo. Pensei muito na dor que meu futuro ex-marido
deveria estar vivenciando e na dor que outras pessoas em nossa
situação provavelmente estariam sentindo, e compreendi que não estava
sozinha.
E o pensamento de eles estarem passando por isso sem o benefício de
examinar sua tristeza, ansiedade ou seja lá o que for, fez com que eu
desejasse que eles se sentissem melhores.
Trabalhando com a dor dessa maneira, gradualmente cheguei à
experiência — não apenas intelectual, mas um tipo intuitivo de “sim, é
assim que é” — de que eu não sou minha dor. O que quer que eu fosse,
era uma observadora de meus pensamentos e sentimentos, e as sensações
físicas que frequentemente os acompanham. Claro que vivenciei pesar e
solidão às vezes; senti um peso em torno do coração ou estômago,
questionei se cometi um erro terrível, e desejei voltar no tempo.
Mas ao olhar o que estava passando pela minha mente e corpo,
compreendi que havia alguém — ou algo — maior que essas experiências.
Esse algo era a “observadora”, uma presença mental que não se
perturbava pelos meus pensamentos, sentimentos e sensações, mas que
apenas os observava todos sem julgar se eram bons ou ruins.
Então, comecei a examinar a “observadora” e não pude encontrá-la! Não
que não houvesse nada ali — ainda havia essa sensação de consciência
alerta — mas eu não podia colocar um nome nisso. Mesmo “consciência”
parecia não caber, parecia uma palavra tão pequena. Por apenas alguns
segundos, talvez mais, foi como se a “observadora”, a observação e
aquilo que estava sendo observado fossem todos o mesmo.
Ah, eu sei que não estou dizendo isso bem, mas havia apenas um senso
de grandiosidade. É tão difícil de explicar…”
Na verdade, ela explicou muito bem, ou tão bem quanto poderia, já que
a experiência da vacuidade não pode realmente ser colocada claramente
em palavras. [...]

Yongey Mingyur Rinpoche (Nepal, 1975 )

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