23 de outubro de 2008

NÃO PERCA OS MOMENTOS BONS
Rubem Alves
Vou escrever rude e direto.
Há ocasiões em que não há tempo para delicadezas e rodeios.
Você acha que sua vida é uma droga, que ela não é nada daquilo com que você sonhou.
Deixe suas queixas para quando houver real razões para elas; não estou fazendo o jogo do contente da Polianna e nem usando o argumento "muita gente está pior do que você".
O jogo do contente é um jogo de mentiras e o jogo do "muita gente está pior do que você" não consola.
A desgraça do outro não é razão para eu estar feliz.
Estou simplesmente tentando chamar você à razão.
Não é a sua vida que vai mal. É a sua alma.
Da tradição Zen vem esta história que eu quero lhe contar:
"Um homem estava numa floresta escura. De repente ouviu um rugido terrível. Era um tigre. Aterrorizado, ele se pôs a correr, mas caiu num precipício. No desespero da queda agarrou-se num galho e ali ficou. Foi então que, olhando para a parede do precipício, viu um pé de morango. E nele, um morango, gordo e vermelho. Estendeu o seu braço, colheu o morango e o comeu deliciosamente".
E assim termina a história.
Pode ser mais tarde do que você imagina.
Não perca os momentos bons que a vida está lhe oferecendo, mesmo quando você se encontra em desespero.
Pode chegar um momento em que você tenha que dizer: "Que pena que não comi com alegria o morango".
Mas aí será tarde. Lembre-se: o passado já foi. Não há como lamentar.
O futuro ainda não chegou. Só não tenha o que lamentar quando ele chegar.

A única coisa que temos é o momento presente. Portanto, não perca os momentos bons.

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